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Amanda Flora

Mãe: Profissional fracassada



Quando tornar-se mãe virou sinônimo de fracasso profissional e não me avisaram ?


Já perceberam isso também ou somente eu ?


Já faz algum tempo que venho sentindo essa indireta quando falo que me tornei mãe. Sou uma adulta jovem, 29 anos, e na maioria dos casos sou basicamente a única da minha geração que optou por ter filho agora. Mesmo que não tivesse optado, isso não vem ao caso, o que importa é , me tornei mãe aos 28 anos de idade. Se não bastasse os comentários “Nossa mas você é tão novinha”, feitos na sua maioria por outras mulheres, hoje criou-se esse estigma que ser mãe é optar por não ter ambição profissional. Eu fico perplexa com isso, por inúmeras razões.


Acredito que seja uma injustiça com todas as mães esse rótulo. O feminismo nos possibilitou expandir a mente, podendo assim escolher nossa forma de viver. Hoje em dia as mulheres querem mais , muito mais do que antes já tiveram. Nós, mulheres, queremos abraçar o mundo e um pouco mais. E um dos grandes objetivos é o sucesso profissional que por consequente nos dá a maravilhosa independência financeira. Lindo né? Claro que sim. Isso nos faz fortes, poderosas e podemos fazer o que quisermos. Admiro muito quem chegou lá, quem quer chegar lá, mas afinal, o que é o sucesso de fato ? Existem milhões de maneiras de ver isso mas a mais recorrente é o que eu tenho sentido de outras mulheres, a superioridade que elas sentem quando informo o meu novo status de mãe.


Vem cá, desde quando optar por não ser mãe virou sinônimo de sucesso profissional? Eu tenho sentido muito isso do meu entourage, mulheres que falam de boca cheia “eu não quero ser mãe de jeito nenhum” com orgulho, como se isso fosse algo péssimo proveniente de pessoas fracas. Quase que passa-se imperceptível ao olho nu mas nós todas sabemos do que eu estou falando. Em uma sociedade em que as mulheres lutam pelos seus direitos, pela igualdade de gêneros, dentro da nossa própria espécie magnifica depreciamos as mães. Pode ser que isso seja loucura da minha cabeça mas venho prestando atenção nos discursos do meu dia a dia e reparei que hoje sou categorizada como “mais fraca” no mundo dos negócios e no dia a dia mesmo. Quando alguém fala “eu não vou ser mãe, escolhi não ser mãe” vocês não sentem que só falta dizer “mães é para as fracas? “, eu tenho essa forte impressão.


Eu quero deixar claro que eu não estou criticando o fato de alguém optar por não ter filho só comentando que parece que isso tornou-se algo de mulheres que irão obter sucesso profissional.

Nós mães somos muito fortes, trabalhadoras, e sofremos como todas quando não atingimos nossos objetivos. Ser mãe é trabalhoso, é um oficio que nem todas estão aptas a fazer. E não ha nada no mundo melhor para mim do que poder gerar, educar, criar, e estragar também um outro ser humano que faz parte do meu próprio ser.


Esse assunto pode ser bem delicado pois as pessoas podem se sentir ofendidas com o que eu tenho para falar, mas não é porque eu sou mãe que eu sou menos mulher.


Não é fácil de maneira alguma abrir mão dos sonhos, sonhos esses que se transformam ao longo da vida. Eu me lembro que eu pensava muito que ter filhos ia atrapalhar minha ambição e assim eu cogitava não ter. Quando me perguntavam fazia questão de dizer que não ia ter e internamente eu sabia que era mentira, mas em frente aquelas pessoas me soava mais poderoso dizer que ser mãe estava fora dos meus planos.

Eu sabia que dizer que não ia ser mãe, estando solteira, aumentavam as minhas chances de ser admirada naquele universo do trabalho. Logo você é comparada com um homem, mesmo que ninguém o diga, mas a priori você tem mais potencial do que a casada recentemente. E acho que isso virou algo cultural e sejamos honestas, é machista.


E porque eu fazia isso sabendo que era mentira? Porque por muito tempo eu achei que o meu objetivo de vida era ser uma mulher de sucesso profissional. Eu tinha esse raciocínio que eu critico hoje. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Personagens fortes de mulheres construídos no cinema, como a famosa Miranda Presley no Diabo veste Prada, mãe de gêmeas.

Também não estou dizendo que as mães deveriam ter mais créditos por alcançarem seus objetivos já que tem dupla jornada, também não é isso, pois ai tem outro problema, só temos dupla jornada porque os pais não dividem as tarefas conosco. E porque ? Porque as licenças parentais são discrepantes e desiguais, começa por ai e assim vai.

Aposto que se tivéssemos igualdade no trabalho, como remuneração, status, respeito e etc, muitas mulheres repensariam a maternidade. Assim como outras manteriam - se firme com o seu não querer, o que é perfeitamente natural, somos indivíduos diferentes. A questão aqui não é resolver não ser mãe, a questão é a parte que faz disso uma escolha perfeita, forte, diminuindo as mães, ninguém está competindo, nós só queremos ser o que acreditamos que funciona para nós. Dentro dessa fatia de mulheres que afirmam não querer ter filhos , sabemos que boa parte não está sendo verdadeira. Muitas associam o fato de ser mãe à ter um parceiro que a ame, morar na casa própria, chegar a certo ponto da carreira, ter um carro bacana, mas algumas vão passar a vida almejando isso. Não existe um tempo certo para ter filho, existe o seu tempo.


Abrir mão de ser mãe é o pior e mais difícil a se fazer por isso quem o faz é mais forte e por consequência nos que optamos o contrario nao, pois curtimos isso sem abrir mao de nada, imaginem então se resolvermos nao voltar ao trabalho?

Ai minha filha esquece, assina sua sentença de dondoca, mimada, sem ambição, burra e outras qualidades. O primeiro pensamento alheio é “Nossa, essa daí ta com a vida ganha, aposto que o marido paga tudo coitado” . Acredite isso é dito por mães que trabalham. Pois existe uma cadeia alimentar e as mães que são donas de casa bicho, estão em ultimo lugar , para serem devoradas.


Me pergunta é, o que você sabe da vida dos outros para julgar dessa forma, e melhor ainda, porque essa mulher não pode escolher o que faz com a vida dela , assim como as outras não-mães, sem ter um tom tão pejorativo que acompanhe?

Não sei, talvez devêssemos perguntar às nossas mães, essas sim são imaculadas, sábias e intocáveis. Louco não?

Sua mãe é aquele ser sagrado que fez o que ela pode para você ter o que tem e você morre de orgulho dela, (maioria dos casos ok? ) mas sua amiga que decidiu ser mãe não, essa daí é fraca.


Já tem muita coisa errada com o mundo para existir essa premissa indiscreta. É muito desafiador ser mãe, é muito lindo ser mãe, mas é muito complicado se sentir diminuída por isso.


Sabe quando você pergunta para a criança que nunca comeu espinafre porque ela não gosta? Assim que eu sinto.

Você sabe que a criança não sabe pois não experimentou mas automaticamente ela diz que não gosta pois foi algo imposto que é ruim, se você cresce comendo espinafre você vai amar espinafre, se você nem experimenta e diz que não gosta ninguém vai levar você à serio.


Quando me tornei mãe percebi como eu estava mais tolerante com a forma de vida dos outros. Criei um respeito grande por coisas que antes julgava tosco. Me dei conta que não é porque não é do meu gosto que eu não devo admirar, afinal, o que importa é tentar. Talvez aquele produto não me interesse mas já pensou como ele chegou ali na prateleira? Alguém com certeza trabalhou bastante para isso acontecer. Essa forma de pensar, respeitar o outro de fato, deveria ser normal, mas nem eu era assim. Me arrependo muito por ter demorado tanto, óbvio que eu não virei a pessoa amorzinho, tenho minha personalidade azeda e minhas criticas, mas respeito sempre. Respeito quem de fato não quer filho, é muito particular à pessoa essa escolha, mas não ofenda nós mães por você ter optado por isso. Nós podemos chegar lá tanto como você.


Foi difícil escrever esse post, tive que reescrever muitas vezes escolhendo muito bem minhas palavras e mesmo assim acredito que vai ser interpretado de forma torta. Também pois não escrevi nem a metade do que passou pela minha cabeça, mas aqui está um extrato.

O importante é que todas nós escrevemos nossas historias com os capítulos que nos cabe, as vezes não escolhemos os números de páginas, ou o numero de volumes da trajetória, mas ela diz respeita unicamente à nós. Infelizmente esse livro tem capa, fica exposta em uma prateleira em uma sessão especifica da livraria, logo ao lado da Vogue.




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